Com tantas coisas mais importantes e viáveis para a Cultura de Guarulhos, tivemos a notícia da implantação do "Museu do Chocolate".... Dá prá aguentar?? Aqui, segue um excelente texto/reflexão de
Maria do Rosário, arte educadora e artista da cidade... ...vejam, opinem:
A quem interessa um Museu do Chocolate?
Quanto vai custar para a cidade?
Quem lucra com isto?
Por que?
O jornalismo investigativo, inexistente por estas bandas, teria nesse assunto matéria prima para boas descobertas. Acho até que faz tempo que o CQC não aparece por aqui..
Não é preciso ser jornalista, nem investigador, para ficar estarrecido e indignado com o que acontece na cidade, a céu aberto e em reuniões de gabinete.
Situando... os dois museus já existentes na cidade, o Museu de História Natural e o Museu Histórico Municipal estão abandonados pelo poder público. O primeiro, por ser situado no Zoológico Municipal é privilegiado em termos de visitação de pessoas interessadas e sem pressa: as crianças. As visitas nem sequer são registradas, dado que demonstraria estatisticamente sua importância para a cidade. Poderia entrar para o século XXI facilmente e com pouco investimento, fosse séria a administração.
Há equipamento, espaço, funcionários e verba para isso. Mas, para que? A população que frequenta o Zoológico nem sabe que ali existe um Museu, ou que o que está visitando é um Museu. No próprio Zoológico roubaram-se araras (!!!!!) sem ninguém notar...
Sofre-se aqui o que parece ser uma praga... excesso de funcionários e inexistência de monitores, guias, intermediários entre os bens culturais e a população. Ninguém quer fazer este papel ‘menor’. Nem mesmo os Agentes Culturais, que, ‘concursados’ como gostam de alardear, para a função de ‘faz-tudo’, pleiteiam escolher o querem fazer ao invés de lutarem por uma formação específica para aprender a fazer o que tem que ser feito. Deslumbrados, alguns consideram-se mais artistas que os artistas que deveriam atender. Cabe aos funcionários de menor peso na ‘cadeia alimentar’, exercerem este papel. Então, se vê de tudo: embriagados, dorminhocos, ’viajandões’ de toda qualidade em contato com a população e o que é pior, deixando esta péssima impressão sobre a cidade. Prova disso são os recentes furtos em exposições de arte.
Para o Museu Histórico Municipal, são designados os funcionários públicos em vias de se aposentar ou aqueles que ‘causam problemas’ por seu comportamento ‘inadequado’. Explica-se o Museu equivale a uma Sibéria... onde seus superiores não precisam vê-los e não há rigorosamente nada para fazer (com a diferença de que na Sibéria não há centro comercial nos arredores).
Haveria, se houvesse a compreensão do que é cultura. Se houvessem políticas públicas claras para a cultura. Se houvesse uma plenária pública séria sobre o que a população deseja como equipamento cultural na cidade. Especificamente sobre Cultura. Não lazer. Não reuniões de Orçamento Participativo nas quais vão sempre as mesmas pessoas, em todas as reuniões, seja qual for a região da cidade. Os P do OP estão mais interessados no O.
A pessoa entra no museu e vê um tijolo. Você saberia dizer por que? Como poderíamos dinamizar o conhecimento do fato que a história de nossa cidade passa pelas olarias, tijolos e chaminés? Nem vou comentar sobre o fato de pintarem os tijolos da base da chaminé do Adamastor, que qual dama de batom, exibe agora a placa reluzente. História é bobagem... luxo é essencial. De qualquer forma, a nova Sibéria são os CEUs... mas isto já é outra conversa.
Digressões a parte, seria cômico, se não fosse... etc. Esta semana, um funcionário da prefeitura, varrendo a rua, pediu uma contribuição pelo seu trabalho. _ O senhor está com sede, quer um lanche? _ Não, não, contribuição financeira mesmo...
A corrupção precisa ser chamada pelo nome: CORRUPÇÃO. Na cidade onde vivemos, na cidade onde nasci, a CORRUPÇÃO é pública e notória. O Museu do Chocolate, com o perdão do trocadilho, é a cobertura do bolo.
Os bastidores do poder já prometeram inúmeras utilizações para o antigo prédio da Câmara dos Vereadores. Pinacoteca, Restaurante Escola, Pontão de Cultura... o que demonstra claramente que eles não tem idéia do que fazer com o prédio, de má fama, por tantos desmandos ali ocorridos. Minha sugestão é que fizessem ali como no Carandiru: implosão e flores. Sem esquecer o mais novo patuá do poder para realizar ali uma defumação. Melhor do que ilustrar a história do chocolate, como se vivêssemos na província de Yucatan ou na distante Ilhéus.
Eureka! Começo a entender... assisti Roque Santeiro essa semana e a semelhança de Asa Branca com Guarulhos, ‘a maior cidade nordestina fora do Nordeste’, é impressionante. Não falta nenhum personagem. É para isso que a arte existe... para expor a nudez do rei.
Guarulhense, educadora, artista plástica, funcionária pública envergonhada.
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