Recebido para a divulgação:
Coleção MAM-BA | 50 Anos de Arte Brasileira
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O Museu de Arte Moderna da Bahia expõe, até o dia 28 de março de 2010, parte
de seu acervo na mostra Coleção MAM-BA | 50 Anos de Arte Brasileira que
conta com obras que ilustram momentos chave da história da arte brasileira
nos últimos 60 anos e obras modernistas que tanto influenciaram este
período. A exposição ocupa todos os espaços expositivos do MAM-BA e se
divide em quatro linhas de força: Modernistas, Fotografia, Rubem Valentim e
Contemporâneos. Uma Linha do Tempo, construída na Galeria Subsolo,
contextualiza a história do acervo e do museu.
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A PERSISTÊNCIA DO NUDISMO ABSTRATO
Pensei em elementarismo, despojamento, abecedarismo geométricos mas acabei
por optar pela idéia do nudismo abstrato, para tentar caracterizar a postura
e a impostação de Almandrade ante suas criações e criaturas sígnicas que
hesitam entre a bi e a tridimensionalidade, em duas ou três cores, em duas
ou três texturas.
A parcimônia desses objetos franciscanamente contundente, desenhados,
signados (designed), compostos segundo uma grafia de cartilha, porém
enganosamente sig-nificada e simplista, posto que metafísica.
Criam um campo significante que parece rechaçar instruções extratexto, mesmo
quando inclui algum elemento metafórico in memorian Dadá.
Meteoritos geométricos do pensamento, taquigrafia precisa de uma claríssima
visão cuja totalidade se ofuscou, indício e impressão minimal de um evento
artístico-mental; ocorrido no panorama ecológico da arte do século XX, como
um pássaro em extinção, aparição de ordem inegavelmente metafísica, essência
e forma divinas (diria Baudelaire) do pássaro nu da poesia e de seus amores
descompostos.
Um nudismo Proun (El Lissitsky) nos trópicos, lembranças metonímica do
paraíso, graciosas construções-instalações não habitáveis, amostras
quase-duchampescas, quase-vandoesburguesas de um ex-Éden artístico, onde a
provável ironia embutida não passa de meio-sorriso.
Esses seres correta e rigorosamente nus, o olho os colhe por inteiros, como
objetos cabíveis no bolso. E há música neles, mas não é sequer de câmara - é
de cela, nicho e escrínio: são microtonais, minideogramas sólidos à Scelsi.
O Almandrade capricha nas miniaturas de suas criaturas, cuja nudez implica
mudez, límpido limpamento do olho artístico, já cansado da fantástica
história da arte deste século interminável, deste milênio infinito.
*Décio Pignatari*